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Foto do escritorAntónio Norton

Sexta feira ou a Quarentena selvagem?

Atualizado: 28 de abr. de 2020



Há uns largos anos dei por mim a ler um livro escrito por Michel Tournier, com o título “Sexta feira ou a vida selvagem”.

Esta semana, durante uma consulta, este livro surgiu na minha lembrança e gostaria de partilhar com vocês a sua mensagem e o quão se aplica à situação de Quarentena na qual todos nos encontramos. 

Não vou reproduzir fielmente a história que li. Que me perdoem aqueles que gostariam que o fizesse.

Talvez até acrescente alguns elementos à história.

Toda esta minha ousadia serve a mensagem que quero partilhar. Sem mais delongas, vamos à história. 

Em certo ano, num certo mês e num certo dia deu-se um naufrágio do qual apenas sobreviveu um homem de seu nome Robinson. 

Robinson teve a fortuna de se agarrar a um pedaço de mastro e conseguiu chegar a uma ilha. 

O barco ficou, teimosamente, parado a uma certa distância favorável da ilha. Favorável, porque Robinson foi capaz de voltar ao barco para recuperar alguns mantimentos, roupas guardadas numa arca, entre outros haveres.

Inicialmente, dedicou grande parte do seu tempo a construir uma casa feita de excelente madeira retirada das árvores da ilha. 

Ora, quando a casa ficou pronta e perante uma provisão de mantimentos assegurada, Robinson ficou sem nenhuma necessidade primária de sobrevivência por assegurar. 

A questão era como iria ocupar o seu tempo?

Apesar de não haver qualquer necessidade para tal, Robinson decidiu planear o seu dia. 

Uma vez que conseguiu recuperar as roupas do capitão, todos os dias vestia-se a preceito para o seu pequeno-almoço. 

Repartia o dia por várias actividades e não descurava a sua higiene, exercício físico e refeições. 

Sentia-se bem, ágil mentalmente e gozava de saúde física e psicológica. 

De algum modo, aquela planificação ajudava-o a afastar pensamentos de natureza ansiosa como: 

-Quanto tempo vou ficar nesta ilha? 

-Voltarei a ver as pessoas que amo?

Manter-se ocupado trazia-lhe uma certa tranquilidade. 

Ao fim do dia, antes da refeição da noite, gostava de se dedicar a um prazer especial….

Recuperou o excelente tabaco e o cachimbo do seu capitão e gostava de terminar o dia a fumar cachimbo, sentindo o entorpecimento e moleza daquela intoxicação tão agradável. Ficava neste estado até ter apetite para a refeição.

Simplesmente, este prazer começou a insinuar-se e a invadir não apenas o final da tarde, mas toda a tarde. 

Robinson pensava: “Se eu não tenho qualquer compromisso, posso ficar aqui a dedicar-me a este prazer. Que me importa?”

Mas o prazer começou a ganhar ainda mais terreno. Os seus músculos ficavam sem qualquer tonicidade e instalava-se um estado que o fazia negligenciar as suas refeições e a sua higiene. 

Ficou bastante mais magro, descuidado, andrajoso, frágil e ansioso. 

Até que compreendeu que toda aquela situação o ia destruir. Se queria alimentar a esperança de sair desta ilha, tinha de parar com aquele hábito destrutivo. 

E foi o que fez. Deitou todo o resto do tabaco fora e voltou à sua planificação diária. Voltou a cuidar de si, da sua higiene e da sua alimentação. 

Certo dia, com o olhar vivo e penetrante, avistou um barco e porque estava forte, bem alimentado e ágil no seu raciocínio foi capaz de construir um sistema que permitiu aproveitar os reflexos solares para ser avistado. Foi a sua salvação.

Ora bem, o que representa a Ilha para si?

A Ilha poderá ser a sua casa a qual pode explorar através dos seus livros, da sua música, dos seus interesses. A sua casa poderá ser um espaço de liberdade ou de prisão. 

A ilha também pode ser a sua mente e os seus pensamentos. Que pensamentos explora? Quais os pensamentos que o levam para o auto-cuidado e o auto-desenvolvimento e quais os pensamentos que o arrastam para ciclos depressivos ou ansiosos?

E como está nesta Ilha, nesta casa? 

Escolhe vestir-se, mesmo que não vá a lado nenhum? Ou passa o dia de roupão e pijama?

Cuida de si? Ou descura a sua higiene, exercício físico e alimentação?

Tal como Robinson, se optar por esta via de negligenciar o seu auto-cuidado vai ficar mais frágil, irritado e menos tolerante. 

Também pode escolher transformar a sua cama no seu “cachimbo” e passar o dia dentro da cama a ver séries da Netflix e a viajar sem destino pelo seu mural do facebook, à procura de algo que o agarre. 

Assim, as insónias surgirão e também os ciclos de sono desregulados, o humor mais irritável. 

Ou….

Pode planificar o seu dia, ser produtivo, cuidar de si, fazer exercício físico, ter uma alimentação regrada, usar a sua criatividade para se dedicar a projetos adiados, com agilidade, energia e motivação.

E, claro, também poderá ver séries, filmes e tudo o mais, mas sem que tal se torne invasivo e o faça esquecer-se de si. 

Quando terminar esta Quarentena estará com outro equilíbrio mental, agilidade, boa forma física e energia para enfrentar o desafio que nos espera a todos!

Se não tem energia, motivação ou está consumido pela ansiedade sem ser capaz de encontrar força para planificar o seu dia; se não consegue largar os seus vícios, sugiro que procure ajuda psicológica. Acredite que neste período poderá ser uma ajuda ainda mais preciosa. 

Deixo-lhe o link para marcação da sua consulta

Um abraço forte e cuide de si

António Norton











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