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  • Foto do escritorAntónio Norton

“Quando a palavra de um amigo não basta”

Atualizado: 28 de abr. de 2020


Gostaria de falar sobre a diferença entre consultar um psicólogo e socorrer-se do ombro e dos conselhos de um amigo.


Quando temos problemas psicológicos, sejam de carácter depressivo, ansioso ou de outra natureza sabe bem e é totalmente gratuito procurar o consolo de um amigo. E qual é o problema de o fazer? Esta pessoa conhece-me tão bem que certamente me poderá ajudar! Ficamos convencidos que a cumplicidade que criámos com a outra pessoa é uma garantia de ela nos poder ajudar. Simplesmente, esta ajuda nem sempre é a mais eficaz. E o que leva a que não seja? Porque razão um amigo não é o suficiente?


O primeiro aspecto que eu gostaria de reflectir diz respeito à genuinidade da relação. Quando me refiro à genuinidade refiro-me até que ponto, numa relação entre amigos, é possível expor a plenitude da nossa identidade, sem medo de ferir ou de desiludir as expectativas que queremos que o nosso amigo tenha de nós?  Vou procurar explicar-me um pouco melhor. Em qualquer relação de amizade existe uma construção da relação baseada na ideia que queremos que o outro tenha de nós. Existe assim um condicionamento enraizado na ideia de não desiludir o outro. Quando estamos a construir uma relação de amizade queremos ser aceites pelo outro e para tal procuramos não o desiludir. Assim vamos transmitir ao outro uma ideia que vá de encontro às expectativas que pensamos que essa pessoa tem de nós. Deste modo, uma relação de amizade tem um condicionamento que, de algum modo, a sustenta.


Quando estamos com um amigo podemos expor as nossas vulnerabilidades, podemos revelar alguma fragilidade, mas até que ponto essa própria exposição não é condicionada? Até onde é que nos expomos na presença de um amigo? Até onde vamos? Qual é o nosso limite de abertura e frontalidade interior? Até que ponto uma relação de amizade pode aguentar uma revelação que nos pode humilhar, envergonhar, embaraçar? Estas questões existem e, de algum modo, condicionam a capacidade da genuinidade e frontalidade entre amigos.


Porque razão eu falo tanto de frontalidade e genuinidade? Porque para nós irmos para outro sitio precisamos primeiro de saber onde estamos. Ou seja, para habitar outro espaço interior, para ficarmos preenchidos com outras emoções primeiro temos de ter uma real consciência do nosso sofrimento. As nossas emoções ligadas ao nosso sofrimento psicológico existem com um propósito, com uma razão, com um porquê. Mesmo que altamente indesejadas elas estão a cumprir, de algum modo, uma função. Elas informam o nosso eu do seu mal-estar e do seu desequilíbrio. São como mensageiras ou bússolas para navegar no nosso mapa interior. Muitas vezes temos de habitar, escutar e perceber a linguagem e a mensagem dessas emoções. É ao habitar essas emoções que poderemos chegar a outras. E, pelas razões acima referidas, tal parece-me difícil ou delicado numa relação de amizade.


Um psicólogo é uma pessoa que não conhecemos de lado algum e portanto o risco de condicionamento é muito menor. Além do mais, um psicólogo tem formação para compreender quando alguém o está a tentar agradar ou a não querer ferir as suas susceptibilidades e tem ferramentas para dizer ao paciente que o espaço da psicoterapia não é um espaço de agradar ao psicólogo.


A relação terapêutica é uma relação especial pois procura não ser condicionada. Claro que qualquer relação humana tem sempre algo de condicionamento, mas a relação terapêutica deverá ser baseada na frontalidade e genuinidade, no procurar que o paciente tire os seus véus, as suas máscaras, os seus instrumentos de sedução e exponha a sua fragilidade e assim mergulhe corajosamente na sua dor, para depois sair dela.


Outro aspecto que torna a relação terapêutica única e distinta da amizade é o seu carácter de confidencialidade. A garantia da confidencialidade é uma porta para a intimidade e para a revelação genuína e sem máscaras do sofrimento psicológico.


Além deste aspecto gostaria ainda de reflectir sobre a experiência clínica e a mais valia técnica de um psicólogo, relativamente a um amigo.


Um psicólogo é uma pessoa que lida com uma população muito particular: as pessoas que apresentam problemas psicológicos.  De alguma forma, estas pessoas têm semelhanças entre si, de acordo com as perturbações que apresentam. Quando um psicólogo vê um paciente não está apenas e só a ver esse paciente, mas está a olhar paralelamente para um conjunto de outros casos, onde surgiram padrões de comportamento semelhantes. Um amigo provavelmente conhecerá um, dois casos. A sua experiência naturalmente será muito mais pobre. Um psicólogo é como uma espécie de águia que vê de cima, o que lhe permite justamente ter “olho clínico” ou “olhos de águia”. 


Para cada perturbação, nós psicólogos, temos um conjunto de ferramentas de intervenção que nos ajudam a intervir eficazmente com cada perturbação. Essas ferramentas surgem a partir de um escrupuloso e sério trabalho de investigação científica, onde estas estratégias são testadas e seleccionadas para servirem como ferramentas para a intervenção clínica.


Finalmente, um amigo gosta de intervir, de dar o seu parecer, os seus conselhos, às vezes está a ouvir e sente-se valorizado por ter sido escolhido como o conselheiro, mas a sua vaidade, ou o seu ego, ou o seu narcisismo, impedem ou encobrem, através de constantes interrupções, a possibilidade de realmente ouvir o outro.


Nós psicólogos ouvimos as pessoas de uma forma diferente. Temos formação para ouvir de forma diferente, com outros ouvidos, com ouvidos clínicos. Claro que também existem as questões económicas… Mas obviamente o nosso trabalho de psicólogos tem de ser pago. É a nossa profissão.


Por todos estes motivos eu penso que é mesmo importante que pense bem na decisão que toma quando está com problemas psicológicos. Socorrer-se de um amigo pode saber bem, mas será realmente o ideal e o melhor para si e para os seus problemas?


Por vezes o ideal é mesmo procurar ajuda Psicológica.


Aqui lhe deixo o link para marcação da sua consulta, caso sinta essa necessidade.


Penso que vale a pena pensar nisto!

António Norton


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