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  • Foto do escritorAntónio Norton

O que tem um gato a ver com a zanga?

Atualizado: 28 de abr. de 2020


Pensemos num gato.


Eu, quando penso num gato, penso sempre num animal meigo, terno, que ronrona e se delicia com as minhas festas e com as minhas carícias.

Imagino que também veja assim o gatinho. E quando os gatos gostam de festas são muito fiéis na forma como demonstram esse mesmo apreço. Mas certamente já ousou fazer festas em zonas em que o gato subitamente revela o seu desconforto. Nesses momentos o que é que acontece? As suas penetrantes unhas revelam-se e o gato executa um movimento rápido e preciso para afastar a mão indesejada daquela zona de desconforto. E levamos um valente arranhão!


Se continuarmos com “a brincadeira” é possível que o gato comece a emitir um estranho som que revela o seu desagrado e, da próxima vez, será ainda mais enérgica a sua defesa.

Ou seja, quando o gato sente que alguém está a ousar entrar na sua zona de desconforto zanga-se e defende-se. Usa a sua zanga e mobiliza recursos (saca das garras) para se defender.


Usa a zanga…


Isso faz dele um animal perigoso e mau? Não! Simplesmente faz dele um animal que procura adaptar-se ao meio que o rodeia.


Então a zanga é negativa? Não! É simplesmente adaptativa.

Zangar-se é importante. Justamente para poder defender-se, tal como o gato faz.

Se levar uma arranhadela é provável que não o continue a importunar.


Nós, quando somos crianças, usamos adaptativamente a nossa zanga para nos defendermos. Vimos munidos dessa emoção e fazemos simplesmente uso dela. E o que acontece?

O que acontece é que muitas vezes os nossos pais, ou outros agentes educativos ensinam-nos que a nossa zanga deve ser censurada, criticada, punida e repreendida. É então que escondemos este recurso emocional tão importante. Escondemos a nossa zanga e assim perdemos uma ferramenta fundamental para nos podermos confrontar eficazmente com pessoas que possam estar a abusar de nós, como por exemplo os nossos próprios pais.

Ensina-se, insinua-se implícita ou explicitamente que a zanga é errada, que não é correta essa atitude… que não se fala assim com os pais, os avós ou outras figuras de autoridade. Lentamente, pois, vamos suprimindo a nossa zanga…


Quando penso em tudo isto recordo o que Jesus fez quando soube que havia mercadores na Igreja. Jesus veio trazer o amor e o perdão… Mas sabe o que ele fez? Acedeu à sua zanga e expulsou os vendedores da Igreja

Portanto, usar a zanga é importante e positivo, mas naturalmente deverá ser usada de uma forma eficaz e pontual.


Em relação ao uso da zanga existem duas situações em particular que merecem atenção clínica: em ambas as situações nós, psicólogos, dizemos que ocorre uma desregulação emocional face à exteriorização da zanga.

Falemos então brevemente destas duas situações:

-Zanga ausente ou praticamente ausente: quando não consegue aceder e exteriorizar a sua zanga, quer verbalmente (através do uso das palavras, ou da ênfase com que as diz), quer através de comportamento não-verbal, com, por exemplo ausência de gestos vigorosos, que denunciam a tensão muscular resultante da sua atitude zangada. Se não é capaz de aceder à sua zanga, então, não conseguirá confrontar-se com pessoas que, ao se aperceberem da sua incapacidade de expressão, poderão abusar de si.

-Zanga continuamente presente: se está num estado de desregulação emocional em que se sente extremamente zangado e incapaz de regular, contextualizar e moderar o nível de intensidade da sua zanga, então correrá o risco de criar contínuas relações pessoais de conflito, que poderão minar várias áreas da sua vida, como a familiar, amorosa ou profissional.

Em qualquer destas situações de desregulação emocional é aconselhável consultar um psicólogo clínico.


Lembre-se que a zanga é sua amiga, mas deverá usá-la de uma forma contextual e pontual, tal como o gato faz quando o informa que não gosta que lhe faça festas em alguns sítios do seu corpo. Se respeitar o gato, ele guardará as suas unhas e voltará a ronronar placidamente.


Se se reconhece em alguma das situações clínicas que acabei de descrever: Supressão da zanga ou hiper exteriorização da zanga, a Psicoterapia pode ser extremamente útil para o ajudar a aprender a regular a sua zanga e a fazer uso dela de modo cirúrgico e adaptativo.


Deixo-lhe um link directo para poder marcar a sua consulta, se assim lhe fizer sentido.



Um abraço

António Norton





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