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  • Foto do escritorAntónio Norton

Impor limites aos seus filhos é um acto de amor


Ao contrário do que possa pensar, restringir a liberdade dos seus filhos através da definição de limites é um acto de amor.

E por que razão assim o afirmo?

Porque enquanto adultos precisamos de conhecer os nossos limites e de os aceitar sem conflito. Se temos os nossos limites definidos isso é estruturante e organizador. Equilibramos os nossos impulsos, os nossos desejos. Permite um equilíbrio entre as dimensões do prazer e do dever.

Se não existe um claro estabelecimento de limites, quando chegarmos a adultos estaremos desorganizados, sem limites interiorizados, sem uma disciplina interna, que nos permita atingir certos objectivos e construir algo.

Tudo se tornará caótico interiormente num cenário gerido por impulsos sem mediação ou regulação.

A forma como a noção de limites foi interiorizada na infância torna-se particularmente importante na chegada à adolescência,

Nesta fase da vida, as emoções e as hormonas estão ao rubro. Existem, geralmente, infinitas sensações de energia, de poder e de capacidade de mudar o mundo, de querer testar vários limites.

Estas sensações são habituais e saudáveis. A questão é quando se passa desta sensação e deste desejo para a necessidade de testar continuamente limites, por vezes correndo sérios riscos.

A interiorização disfuncional de limites, no adolescente, pode conduzir a uma sensação de estado de omnipotência desregulada, em que os impulsos comandam e em que a sua vida pode ser colocada em perigo, com a manifestação de comportamentos de risco, como o abuso de drogas, a necessidade de recorrer a experiências limite como, por exemplo, andar a alta velocidade de carro ou mota, fazer sexo desprotegido, entre outros comportamentos de risco.

Uma interiorização de limites sem conflitos é muito importante para impedir a passagem à realidade destes sentimentos de omnipotência.

Por tal motivo, é muito importante que os pais sejam capazes de impor limites nos seus filhos, com amor e firmeza.

Mas impor limites tem que se lhe diga....

É um tema delicado. O segredo está no equilíbrio.

Dentro do tema da imposição de limites na educação, podemos encontrar dois estilos extremos de educação:

Estilo de educação permissivo: sem imposição de limites.

Estilo de educação autoritária: com uma imposição rígida, autoritária e impositiva de limites claramente definidos.

Ambos os extremos vão trazer conflitos no futuro adolescente e adulto.

Ambos os polos radicais de estilo educativo também poderão contribuir para a instalação de dinâmicas de auto-negligência, particularmente manifestadas na adolescência e na fase adulta.

Vejamos de que modo:

Uma educação demasiado autoritária, com a contínua imposição de limites, pode fazer com que um adolescente, mais tarde adulto, passe a viver em conflito com a imposição de limites. À medida que se autonomiza terá tendência em quebrar as regras, as leis, os limites, sejam eles quais forem.

O conflito interiorizado terá tendência a tornar-se em rigidez excessiva do comportamento de oposição: como se estivesse permanentemente numa necessidade de contrariar os pais autoritários que interiorizou, mesmo que estes não estejam presentes no momento, ou até que já tenham morrido.

As atitudes de negligência do adulto estarão, pois, a reflectir uma contínua necessidade de contrariar a autoridade imposta pelos pais. Dizemos que o adulto vive em ‘contra identificação’. Quando assim é, tudo o que significa limites como regras, prazos, planos, objectivos, balizas temporais, pontualidade, compromissos é vivido em conflito e geralmente instalam-se padrões de auto negligência e auto sabotagem.

Podemos supor que um adolescente e mais tarde um adulto que age por si mesmo, sem o jugo impositivo da autoridade paternal, é verdadeiramente livre.

Mas a liberdade pressupõe a possibilidade de agir e poder fazer qualquer tipo de escolha. Seja a escolha de abraçar e cumprir certos limites, seja a escolha de não querer cumprir certos limites.

Se uma pessoa age sempre escolhendo não cumprir qualquer limite ou prazo, não é livre, porque age continuamente em contra-identificação, como se estivesse a dizer permanente à autoridade paternal interiorizada : nunca mais farei o que julgam ser o melhor para mim! E o que julga ser a sua liberdade é, na verdade, uma falsa liberdade.

Esta contra identificação pode, inclusive, trazer consequências complicadas para a pessoa que escolhe não cumprir qualquer regra. Poderá perder o seu trabalho; ser incapaz de ter estabilidade emocional para estar num relacionamento amoroso que pressupõe alguns limites; poderá ser incapaz de cuidar da sua própria casa, entre outras situações.

Portanto, em muitos casos, a auto negligência está relacionada com a forma como os limites foram interiorizados.

Uma educação permissiva, sem a imposição de limites, poderá conduzir a um padrão de auto negligência porque o adolescente, mais tarde adulto, não aprendeu a gerir os seus limites.

E uma educação impositiva e autoritária poderá conduzir a um padrão de negligência como uma afirmação inconsciente de liberdade disfuncional que o adolescente e o adulto pensa ter conquistado, mas que lhe traz desequilíbrio, instabilidade emocional e ansiedade.

Ter limites é muito importante e muito estruturador. Dá-nos organização interna e externa.

A visão romântica de vivermos movidos a impulsos caóticos, desordenados, súbitos, imprevisíveis gera sofrimento interno.

O segredo está em receber os impulsos que temos e organizá-los dentro de limites.

Senão é apenas o caos.

E onde há caos não há equilíbrio nem bem-estar.

Se tem dificuldade em cumprir prazos, tarefas, objectivos, planificar, antecipar, estruturar, construir, nutrir; se se vê como uma pessoa inconstante sem a capacidade de ter regularidade e hábito e sobretudo se essa falta de limites lhe traz sofrimento, acredite que a Psicoterapia poderá ser uma ajuda preciosa.

Deixo-lhe o link directo para marcação da sua consulta.

Um forte abraço

António Norton


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