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  • Foto do escritorAntónio Norton

“Homo Virtualis”-O risco da alienação pela sedução do mundo digital


Em 2016 fui entrevistado para a Revista Activa sobre o Fenómeno do Pokemon Go e a forma como o Universo Digital tem vindo a invadir, progressivamente, a vida de todos nós.


Recentemente revi esta entrevista e, embora seja de 2016, a verdade é que me parece extremamente actual, sobretudo relativamente à reflexão em torno do desafio crescente que é viver com um pé no mundo real e outro no digital.


Resolvi então partilhar algumas das ideias-chave contidas nessa entrevista.


Somos cada vez mais virtuais, digitais, informatizados.


O Smartphone, o IPAD, o IPhone, o IPAD, o relógio com ligação à internet e que traz notificações de quando recebemos emails…

Todos estes inúmeros aparelhos fazem cada vez mais parte do nosso dia a dia e são quase como extensões de nós mesmos.


Acompanham-nos e estamos continuamente a consultá-los.

Só para termos uma ideia, em 2019 estudos apontavam que a média de consulta do telemóvel por dia era de 200 vezes…


Este permanente salto entre o mundo digital e o mundo real leva-me a considerar que somos cada vez mais “Homo Virtualis”.


Praticamente, vivemos metade dos nossos dias na dimensão real e outra metade na digital.


Esta intrusão do mundo digital acontece porque se trata de algo, para a larga maioria das pessoas, muito apelativo e viciante.

Mas, viver em dois mundos é muito desafiante, sobretudo quando queremos estar em ambos os mundos ao mesmo tempo…

Mal escolhemos ir para o mundo virtual, a nossa atenção para ao mundo real reduz-se, deixamos de estar inteiramente presentes.

Não vamos conseguir prestar a devida atenção a uma conversa, a uma leitura, a um filme, ao caminho que estamos a percorrer.


Ficamos num permanente estado fragmentado, dividido, alienado. Passamos a nunca estar em lado nenhum porque temos esta avidez, quase necessidade, de querer estar em todos os lados...


Ficamos divididos e passamos a ser hiper estimulados pelo vórtice virtual ao mesmo tempo que temos a intenção de ficar no aqui e agora real.


Deixamos de estar inteiramente presentes e com capacidade para reagir com a devida rapidez aos desafios do mundo real.


Isso não significa apenas que, ao estarmos a atravessar a estrada a olhar para o telemóvel, podemos ser atropelados. Tem também consequências ao nível da forma como vivemos a vida e como nos tornamos pessoas.


O mundo virtual pode ser extremamente apelativo, mas este enorme apelo esconde um risco que deve ser tópico de reflexão:


O mundo virtual pode conduzir a um estado de alienação.


Todos nós, humanos, precisamos de fugir à realidade. O problema é quando essa fuga se transforma num objectivo de vida.


Quais as dimensões da minha vida que estão a ficar para trás? Quais estão desnutridas? Quando é que a minha vida é a vida virtual?

Viver é difícil. E por vezes torna-se muito atractiva uma vida mais simples e mais compensadora como, aparentemente, é a do o mundo virtual, onde o reforço é imediato.


Um gosto, uma partilha, um comentário simpático, tudo isso pode acontecer hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo e, tudo isso pode ser mais estimulante do que viver e procurar superar os conflitos que a vida real e diária nos traz.


Se eu tiver à minha frente o meu companheiro ou companheira, com quem as coisas não estão bem e, em vez de enfrentar os meus problemas, prefiro ir jogar um jogo virtual, ou falar com pessoas no chat do Facebook, então não estou a lidar bem com a minha vida.


Já tive pacientes a dizerem-me que a sua vida sexual não estava boa e em vez de conversarem um com o outro tentando perceber a questão, estavam preocupados com a reserva de cereais do Farmville...


Quando as pessoas morrem a tirar selfies dentro de carros, o que estará a acontecer? É como se as pessoas não se permitissem estar no aqui e agora e precisassem de uma dimensão de constante recompensa.

Isto é muito perigoso. Porque é como uma “droga” e estamos a criar uma geração que vive disso. A vida não é feita de contínuas recompensas.


As pessoas que escolhem viver na dimensão digital e entram em estado de alienação consideram que a realidade, por si mesma, não é suficientemente estimulante.


Este estado de cada vez maior alienação poderá conduzir a um crescente isolamento. Estamos cada vez mais sozinhos, mais isolados e solitários e estamos a construir estratégias que não nos ajudam a lidar com isso.


E não falo apenas dos adolescentes, mas também dos adultos.


Esta dimensão de alienação tem vindo a tornar-se cada vez mais totalitária. Há muitas pessoas que saem do trabalho, vão para casa e ficam em casa a jogar. E é isto que fazem na vida.

Conduzir é tão chato…mas podemos sempre enviar selfies.


E depois, facilmente, se percebe as consequências. Por isso é tão importante que as pessoas estejam disponíveis para reflectir sobre isto. Não se trata de criticar. Trata-se de tentar entender.


Se sente que vive num estado crescente de alienação, de isolamento, de negligência da sua vida e prefere passar o seu dia no mundo virtual, acredite que a Psicoterapia poderá ser uma ajuda importante para sair desse estado e religar-se à vida, ao mundo real, ao aqui e agora.


Deixo-lhe o link para marcação da sua consulta.



Deixo aqui o link para ler a entrevista que dei na íntegra.



Um forte abraço

António Norton


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