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Foto do escritorAntónio Norton

Estratégias para se libertar da ansiedade antecipatória em tempos de imprevisibilidade

Atualizado: 28 de abr. de 2020


Vivemos um período incerto, instável, marcado claramente pela tónica da imprevisibilidade. As tomadas de posição da Direcção Geral de Saúde ou as medidas implementadas pelo Governo variam em poucos dias. É difícil encontrar estabilidade, coerência, segurança neste período tão inconstante. Perante este cenário, algumas pessoas têm ferramentas emocionais e cognitivas que as ajudam a lidar com a incerteza e outras vivem num estado de agitação, por aquilo a que vulgarmente se chama "Sofrer por antecipação.” Talvez o melhor seja começar por clarificar o que significa esta expressão e qual a relação entre esta expressão e aquilo a que se chama “Ansiedade Antecipatória.” A ansiedade é uma resposta psicofisiológica que surge perante uma percepção imaginada de perigo. O que podemos retirar desta definição? Que podemos ter uma resposta de ansiedade, mesmo perante uma situação que apenas existe na nossa imaginação e que não apresenta perigo para a maior parte das pessoas, mas poderá apresentar perigo para si. Lembra-se quando era pequeno e ficava a tremer de medo quando lhe contavam histórias de assombrar em noites de lua cheia? Ficava ansioso e mal pregava olho durante a noite, certo? E tal não se devia a um medo real… Mas sim a um medo imaginado. Voltemos ao termo de ansiedade antecipatória: Chamamos ansiedade antecipatória a uma resposta de ansiedade perante a antecipação mental de um cenário ansiógeno. Por exemplo, apresentar um quadro de insónias perante o medo de ter ficado contagiado perante uma tosse seca que detectou após ir ao Supermercado. Nesta situação a resposta de ansiedade não se deve a algum perigo que está a acontecer no exacto momento, mas sim a uma cascata de pensamentos e imagens mentais perante a antecipação de um cenário ansiógeno. Ou seja, por outras palavras, sofrer por antecipação. A sua tosse seca pode dever-se, simplesmente, a uma irritação da garganta, sem consequências de maior. A ansiedade antecipatória está geralmente associada ao receio de perder o controlo quando a situação futura chegar. Geralmente é preenchida por pensamentos condicionais desta natureza: “E se…”  Voltando ao exemplo da tosse seca: “E se eu estiver contaminado?”, “E se contaminei as pessoas cá em casa?”, “E se a situação se agrava?” e.t.c. Como vê, tudo isto se refere à situação de poder perder o controlo perante a situação futura. Então como podemos combater esta situação? Como podemos sair do loop ansioso de pensamentos que inundam o nosso cérebro e nem nos deixam descansar? Para responder-lhe a estas perguntas é importante relembrar uma palavra que tem sido aqui várias vezes referida: controlo. Vamos falar um pouco de controlo e mais do que isso, de percepção de controlo. Quando as pessoas acreditam que os seus esforços e competências determinam o que podem alcançar e a forma como decorrerão as situações em que estão implicadas dizemos que têm um locus de controlo interno. Quando as pessoas acreditam que o que podem alcançar não depende delas mesmas, mas sim de factores externos dizemos que têm um locus de controlo externo. Ora quem acha que será um maior candidato a sofrer de ansiedade antecipatória durante mais tempo? As pessoas de Locus de controlo interno ou de externo? Exactamente! Naturalmente as pessoas com locus de controlo externo! Justamente, porque não se consideram os principais agentes da mudança. Perante a antecipação de uma situação temida futura, vão claramente sofrer por antecipação durante mais tempo. Por outro lado, as pessoas de locus de controlo interno vão também ficar ansiosas perante a apresentação do cenário futuro, mas rapidamente vão mobilizar recursos e estratégias para superar a situação e ganhar auto-confiança e sensação de auto eficácia e auto-controlo. Assim irão procurar observar a situação e preparar-se o melhor possível para o cenário futuro. Perante o exemplo dado, uma pessoa de locus de controlo interno vai procurar fazer um chá calmante, comer um pouco de mel, beber muita água, pensar que foi apenas uma irritação provocada pelo tabaco que fumou em excesso. Uma pessoa de locus de controlo externo ficará presa a um loop ansioso, poderá entrar num processo crescente de ansiedade e com um pensamento mais fatalista e absoluto tomando como certo já estar infectada e preparando-se para ter de contactar o SNS. Portanto, voltemos à nossa pergunta inicial: como poderá combater a ansiedade antecipatória? Vou responder-lhe agora com uma frase dita por um antigo professor meu, que encerra muita sabedoria: “O Medo é cobarde! Quando o olhamos nos olhos ele foge” Ora bem o que tal significa? Significa que a melhor forma para rapidamente sair de um estado de ansiedade antecipatória, é perceber se o seu medo é real ou imaginado. Respirar fundo e fazer um teste de realidade e compreender se poderá estar a entrar num processo catastrofista. No exemplo dado, será controlar a cascata de pensamento ansiosos de natureza condicional. Em termos concretos, trata-se de uma tosse seca. Apenas um sintoma de uma enorme possibilidade de um quadro de infecção com maior ou menor gravidade. Nesta altura é muito importante estar consciente se está a entrar em processos de ansiedade antecipatória, olhar de frente o seu medo e perguntar se este é real ou imaginado. Ir a um Supermercado não é receita fatal de uma infecção, sobretudo se tiver os cuidados recomendados. Não alimentar rituais de limpeza obsessiva, será uma das melhores soluções para parar a espiral ansiosa. Gostaria de terminar com esta resposta que o Salvador Sobral deu quando lhe perguntaram se ficou nervoso na Final da Eurovisão. Ele respondeu que não, porque controla o seu aparelho vocal. Conhece o seu instrumento e está à vontade com uma pessoa ou milhares de pessoas. Portanto, se olhar de frente para o seu medo e perguntar se este é real ou imaginado; se estiver bem preparado para reduzir efectivamente as possibilidades de este medo ganhar uma dimensão mais real, a probabilidade de permanecer num estado de Ansiedade Antecipatória vão ser, drasticamente, reduzidas. Se mesmo assim se sente prisioneiro da sua ansiedade e não encontra uma forma de a diminuir, recomendo vivamente que procure ajuda psicológica. Nos dias que correm, o apoio psicológico poderá ser uma ajuda preciosa e valiosa para superar estados de ansiedade teimosamente insistentes quer por medo de contágio, por medo de falência económica ou ainda por medo de não saber viver numa situação de imprevisibilidade. Deixo-lhe o link directo para marcação da sua consulta. https://www.antonionortonpsicoterapia.com/marcar-consulta Um forte abraço António Norton



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