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  • Foto do escritorAntónio Norton

E se deixasse a água correr? Quando evitamos as emoções...


Imagine uma massa de água revolta, turva, intensa, que se desloca a grande velocidade e se prepara para inundar tudo ao seu redor.

Só existe uma pessoa capaz de deter esse poderoso elemento que é a água.

Esse alguém é você.

E como o faz? Usando o seu corpo.

Com a força dos braços, das pernas, do tronco, constrói uma estrutura que impede a passagem da água. A questão é que esta estrutura precisa continuamente da sua força para conseguir, com êxito, impedir a passagem da água.

Mas a força da água pesa e desgasta o seu corpo…

Agora vamos pegar nesta imagem e transpor para aquilo que acontece quando criamos uma forte resistência para a expressão e vivência interna e externa de certas emoções, essas emoções que teimam em querer ser expressas.

Existem acontecimentos internos, como sejam as memórias ou os pensamentos.

E também existem os acontecimentos externos como o abandono, o luto, as perdas traumáticas, as agressões e humilhações. Tudo isto pode surgir como gatilhos para o aparecimento de certos estados emocionais.

Dentro das emoções que mais procuramos evitar vivenciar, encontramos a tristeza e a zanga.

E por que razão evitamos sentir a tristeza? Porque temos receio de poder ficar deprimidos.

E por que razão evitamos sentir a zanga? Porque temos medo de ficar tensos, irados, capazes de explodir, de perder a calma.

O nosso corpo é sábio e se uma emoção surge não é para ser habilmente abafada, mas sim regulada e expressa.

Muitas vezes recebo pacientes que partilham comigo esta surpreendente constatação: é que, justamente durante as férias, começaram a apresentar ataques de pânico, estados descontrolados de ansiedade ou a ficar apáticos, desligados dos outros ou mesmo deprimidos. Isto surpreende-os. É quase incompreensível que num estado de aparente calma se tornem tão ansiosos.

Não conseguem perceber como foi possível isto acontecer num período de férias, de aparente relaxamento e descanso.

Quando lhes pergunto se antes das férias houve algum episódio de forte impacto emocional, muitos descrevem a morte de algum familiar, uma separação dolorosa, uma mudança súbita de vida, uma crise ou outros acontecimentos.

Quando surgiu o episódio procuraram evitar a emoção, procuraram ser funcionais e seguir com os seus afazeres laborais, familiares, amorosos, filiais, etc. Não admitiram ficar tristes ou zangados. Evitaram essas emoções.

E o que aconteceu?

Voltemos ao exemplo inicial da água revolta…

A água é a emoção. As emoções têm uma enorme força e precisam de ser expressas.

Quem usa o seu corpo para evitar chorar ao cerrar os dentes, ao engolir a dor, ao agitar vigorosamente a cabeça, ao disfarçar com um riso forçado, ao usar a ironia, ao continuar a trabalhar como se nada fosse, acaba por ser vítima, mais tarde ou mais cedo, da “força das águas”

Numa altura de maior relaxamento, o corpo cede e as emoções irrompem. A questão é esta: o esforço para evitar sentir as emoções foi de tal ordem que a depressão aparece.

As pessoas não querem chorar porque têm medo de se deprimir, mas curiosamente quem não chora e não expressa a sua tristeza é que é um forte candidato a deprimir e a ficar apático, desligado de tudo e sem prazer.

As emoções, ao irromperem, podem deixar uma pessoa mais sensível e podem manifestar-se sob a forma do que, vulgarmente, se chama ansiedade. A ansiedade não é uma emoção, mas sim um misto de emoções.

Portanto, se não quer deprimir ou ficar ansioso durante um período de maior relaxamento, deverá ouvir as suas emoções e procurar senti-las.

Evitar, não adianta.

Se estamos tristes, é importante que o possamos dizer.

Se estamos zangados, é importante que o possamos demonstrar.

Não lute contra o turbilhão da água. Aceite-o

Às vezes temos de chorar.

Às vezes temos de gritar.

Se o fizer, dificilmente ficará deprimido ou ansioso.

Se não consegue expressar as suas emoções, se tem medo de as vivenciar,

se reconhece que as evita, então recomendo, vivamente, que faça Psicoterapia.

No espaço seguro do consultório e através de várias estratégias e propostas de intervenção, poderá aceder às suas emoções, ouvi-las e perceber o que lhe está a acontecer.

Está a dar um passo muito importante para não se tornar deprimido ou ansioso.

Deixo aqui o link directo para marcação da sua consulta.

Um forte abraço

António Norton







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