
No sentido de procurar responder à pergunta que coloco, em primeiro lugar, gostaria de refletir sobre o que leva uma pessoa a sentir necessidade de humilhar e desvalorizar outra, procurando continuamente situações para se evidenciar e valorizar a si mesma.
Esta dinâmica relacional tóxica poderá ser altamente desgastante e produzir rupturas entre a pessoa que humilha e o alvo desta humilhação.
Sempre que qualquer pessoa, alvo desta agressão verbal personaliza a agressão e fica lesada ou ferida emocionalmente pela forma como viveu este ataque, corre o risco de diminuir a sua auto-estima e duvidar de si mesma.
As pessoas que procuram humilhar o outro e o desvalorizar colocam-se a si mesmas em situações de competição e querem e sentem a necessidade de sair sempre vencedoras. Convidam o outro para um duelo, um confronto, um combate.
Por vezes, recebo pessoas em contexto de consultório que surgem claramente feridas emocionalmente por estes ataques.
O ideal seria sair destes contextos tóxicos, mas nem sempre tal é possível.
Nem sempre a melhor resposta é o confronto directo ou a ruptura radical...
Estas dinâmicas de competição implícita são comuns entre contextos familiares - de pais para filhos, de filhos para pais, entre irmãos, entre casais, nos empregos e, por vezes, até nas amizades.
Surge a questão: Como lidar emocionalmente com pessoas que procuram-se evidenciar, humilhando o outro?
Para não se deixar contagiar emocionalmente por esta agressão verbal que pretende ser humilhante, a principal ideia que gostaria de deixar é a de distanciamento emocional, ou seja, de não ficar refém da sua reatividade emocional.
E quando ficamos reactivos?
Quando deixamos que algo nos ofenda, nos toque, nos arranhe, nos perturbe.
Um insulto é apenas potencialmente ofensivo. Só será lesivo se se deixar ficar ferido emocionalmente com tal. Se deixar que as palavras o abanem e fragilizem a sua identidade.
Se não personalizar o ataque, se não aceitar o convite implícito do combate que a pessoa tóxica faz, então não haverá desgaste emocional.
Algo muito útil para sermos capazes de nos distanciarmos emocionalmente é compreender o que leva uma pessoa a ter permanentemente a necessidade de se evidenciar, humilhando o outro.
Gostaria de fazer uma pergunta:
Acha que uma pessoa segura de si mesma, sem qualquer necessidade de ter de provar algo a alguém, em paz consigo própria, precisa de se evidenciar, de humilhar o outro e chamar para si o foco das atenções?
Com certeza que não.
Uma pessoa que precisa de se evidenciar, está insegura de si mesma, sente-se inferior e frágil.
A sua necessidade de se evidenciar é uma estratégia para confortar disfuncionalmente a sua insegurança, o seu eu auto-crítico.
Se uma pessoa não deixa ninguém falar, se interrompe os outros, se está permanentemente a se vangloriar ou a se auto-elogiar é porque está a tentar combater disfuncionalmente a sua insegurança.
Numa palavra: Uma pessoa com esta necessidade tem um complexo de inferioridade.
Se precisa humilhar o outro é porque teme e também admira esse outro. Como admira e, no fundo, valoriza essa pessoa e como é insegura tenta humilhar e inferiorizar o outro para não haver competição.
Ao rebaixar o outro, no fundo quer nivelar a forma como o vê, tirando-o do pedestal em que o colocou.
Quando passamos a ver aquele que nos quis humilhar e se evidenciar como alguém com um complexo de inferioridade, isso ajuda a perceber que aquelas palavras de ofensa e aquela atitude deve-se a um mecanismo de sobrevivência emocional que aquela pessoa arranjou para si mesma.
Não está diretamente relacionado consigo.
“Isto não é sobre mim. É sobre a forma como o outro se vê a si mesmo e me vê a mim”
Deste modo, será mais fácil se distanciar emocionalmente.
Este exercício de descentração e de tentar compreender o outro também o poderá ajudar a encontrar um espaço de empatia dentro de si.
Quando há empatia não há tensão. A empatia dissolve qualquer conflito.
Se encontrar empatia dentro de si, poderá trazer uma forma de genuinamente valorizar o outro que o quer humilhar.
Ao pedir a opinião, ao elogiar, ao pedir ajuda ao outro que o quer humiilhar, retira-o de um estado de necessidade de auto-elogio e retira-o de uma dinâmica de combate e de confronto e de competição imposta.
Deixa de ser visto como um inimigo pela pessoa insegura e tóxica, não porque se submete, mas porque acolheu e compreendeu esta pessoa empaticamente.
Deixará de sentir ansiedade em contextos de confronto com pessoas que usam a humilhação e a auto-valorização como forma de combater disfuncionalmente o complexo de inferioridade que têm.
Se mesmo assim mantém níveis elevados de ansiedade e de desgaste emocional e tensão, acredite que a ajuda da Psicoterapia poderá ser uma ajuda preciosa para conhecer os seus conflitos internos, as suas feridas emocionais que o deixam reactivo, perante as tentativas de humilhação do outro.
Caso sinta necessidade ou conheça alguém que poderá beneficiar da Psicoterapia aqui lhe deixo o link para marcação da sua consulta.
Um forte abraço para si.
António Norton
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