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  • Foto do escritorAntónio Norton

“ A geração do tá-se bem” e a negação do sofrimento psicológico

Atualizado: 28 de abr. de 2020


Hoje em dia imperam ideias de positivismo, de smiles, de likes, de sorrisos. Implicitamente corre a ideia de que o importante é  sentirmo-nos bem.


Gostaria de reflectir sobre as implicações psicológicas desta mensagem implícita e explícita da obrigatoriedade de “estarmos bem”.


Naturalmente, qualquer pessoa gosta de se sentir bem. Mas esta sensação deverá ser natural, ou seja, deverá estar de acordo com os níveis de realização de cada um. Se uma pessoa se sente realizada ou sente que está no caminho certo em áreas como o eixo amoroso, ou o eixo profissional, ou familiar, de amizades e existencial - o sentido que dá à sua vida - então é natural que se sinta bem.


A vida é dinâmica e existem sempre áreas em que sentimos maior ou menor realização. O eixo amoroso pode estar excelente e o profissional péssimo. Contudo, tal situação pode não constituir impedimento de modo a que uma pessoa se sinta relativamente bem.

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Mas existem situações em que o “tá-se bem” ou o “sorriso” não fazem qualquer sentido. Nem têm que fazer! O problema está na dificuldade em vivenciar estas emoções. Parece que esta sociedade defensora do ultra-positivismo não deixa espaço para a partilha e para a intimidade da expressão de estados de tristeza, zanga ou dor interior profunda. E esta é uma questão séria, que deverá merecer a nossa reflexão.

Quantas vezes só no sossego, no conforto e no segredo do nosso quarto é que somos nós, na autenticidade da nossa expressão emocional, sobretudo em períodos de dor e de ansiedade?


Muitas vezes, a censura e as emoções, tais como a tristeza ou a zanga começa desde a mais tenra infância, altura em que estes sentimentos não são devidamente legitimadas e são impostos níveis de hétero e autocensura pelos pais e educadores. A criança aprende que não deverá estar triste ou zangada e não aprende, verdadeiramente, a sentir e a gerir estas emoções. Estas não aprendizagens muitas vezes têm pesados custos ao longo da vida, justamente em períodos em que deveria existir a legitimidade para dizer “tá-se mal”. 

A criança vai aprendendo a não gerir interiormente a tristeza e a zanga. Mais tarde é lançada numa sociedade onde a partilha da tristeza é, de certo modo, censurada…


Este é verdadeiramente um dos dramas da sociedade actual. Parece que não há espaço e compreensão para um olhar triste e vazio ou a ausência de um sorriso. Todas estas manifestações emocionais criam incómodo e embaraço e são olhadas de lado.

Se alguém se sente triste ou zangado, sorri e finge que está tudo bem, só levará a uma maior acumulação de tensão.

Outra das consequências desta censura colectiva é o de a própria pessoa entrar em processos de relativização e de auto-ilusão perante o seu mesmo sofrimento “Se os outros dizem que está tudo bem e que eu tenho é de sorrir, então se calhar até não estou assim tão mal”.


A negação do sofrimento. O não dizer “tá-se mal”, o não ouvir as nossas emoções traz consequências…

O que acontece quando não ouvimos as nossas emoções?

Se não ouvimos as nossas emoções, então poderemos correr o risco de perpetuar ciclos de mal-estar físico e psicológico. O nosso corpo começará a “guinchar” com dores de cabeça, tensão acumulada nas costas, taquicardias, úlceras, sensações de vómitos e mal-estar abdominal entre muitos outros sinais que a sabedoria do nosso corpo usa para sinalizar a gravidade da situação.


O maior erro é ignorar estes sinais e fingir que “tá-se bem!”. Por vezes devemos dizer “tá-se mal” e perceber que o smile interior não está disponível. 


É a consciência do nosso sofrimento que conduzirá à procura da mudança.


Se o seu corpo dá sinais de que “tá-se mal” ou se anda zangado, ansioso ou triste continuamente, então seja verdadeiro consigo mesmo e assuma que “tá-se mal”. Procure ajuda psicológica!


Aqui lhe deixo o link para marcação da sua consulta, caso sinta essa necessidade.


Vale a pena pensar nisto!

 Um abraço

António Norton



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