Geralmente os ataques de pânico ocorrem de forma espontânea e muito imprevisível, o que os torna ainda mais assustadores.
De repente surge uma violenta aceleração cardíaca acompanhada de hiperventilação, suores, garganta seca, desorientação espacial, presença de palpitações.
Poderão surgir também tremores, tonturas, paragem de digestão, visão em túnel e sensação de que o coração vai explodir. Podemos ter um ataque cardíaco. Podemos morrer.
É, de facto, um episódio com um elevado potencial assustador, que poderá precipitar uma ida às urgências hospitalares ou marcar, de urgência, uma consulta de psiquiatria.
O ataque de pânico, geralmente, é vivido como algo que “durou horas”, mas na verdade e quase sempre, apresenta uma curta duração.
Tem um pico de intensidade e depois baixa, deixando um elevado desgaste emocional e físico - “parece que fui atropelado por um camião” - são palavras muito usadas pelos meus pacientes.
Raramente conduz a algum ataque cardíaco, embora a violência da rapidez do batimento cardíaco possa assustar e pensar em tal.
Um ataque de pânico é como um sismo.
Após o sismo ocorrem réplicas. Aqui, geralmente, acontece o mesmo.
Mas é importante perceber como são desencadeadas essas réplicas.
A vivência pessoal de um ataque de pânico tem um forte impacto psicológico. Uma pessoa deixa de confiar no seu próprio corpo.
É como se deixasse de se sentir segura na sua própria casa.
Ganha uma hipervigilância perante o bater do seu coração, observa alguma sensação de frio ou de calor. Passa a estar num estado de constante monitorização do seu corpo. As várias sensações corporais que antes eram vividas como normais, sem lhes dar grande importância, passam a ter um foco constante o qual poderá tornar-se obsessivo.
É como se estivesse sempre com uma lanterna apontada para o seu corpo e para as várias sensações que naturalmente ocorrem.
Torna-se difícil estar no “aqui e agora”. Uma pessoa passa a viver no futuro condicional. Surgem crenças condicionais permanentes: “e se, de repente, tiver um ataque?”
Fica difícil estar tranquilo…
A ansiedade antecipatória passa a ser uma companheira diária e poderão surgir insónias, perda de apetite, dores de cabeça e alguns ataques de ansiedade.
Também pode vir a iniciar um conjunto de estratégias de evitamento para se proteger de certas situações “de risco”.
A adopção destas estratégias é compreensível, mas quando uma pessoa passa a evitar sair de casa, praticar desporto, ter relações sexuais ou praticar alguma actividade que implique o aumento do batimento cardíaco, torna-se refém do seu medo. A hipervigilância e a ansiedade antecipatória poderão aumentar ainda mais.
Deste modo, é possível entrar num loop ansioso e dele ficar refém. Passa a ter medo do ataque de pânico. A presença constante do medo cria tensão a nível corporal e pode conduzir a uma respiração curta, mais a nível torácico, em vez de lenta e profunda.
Este estado de hipervigilância, de tensão corporal, de pensamento condicional e de respiração curta e rápida poderá acabar por desencadear outros ataques de pânico.
As réplicas de que falei há pouco.
Muitas vezes as pessoas que têm ataques de pânico recorrem a medicação psiquiátrica e encontram aí um refúgio, uma segurança. Mas, quando se dá o desmame psiquiátrico da medicação, muitas vezes ficam novamente em estados de hipervigilância, tensão acumulada, respiração curta e ansiedade antecipatória. Novos ataques de pânico podem surgir.
É importante compreender que o primeiro ataque de pânico pode ocorrer a partir de um acumular de tensão desencadeado por uma situação externa - a morte de um familiar, um susto durante a condução do veículo, um pico de stress laboral, entre outras condições.
Esta situação externa é vivida interiormente como ameaçadora e geradora de um estado de tensão interna que acaba por desencadear o ataque de pânico.
As réplicas ocorrem, geralmente, devido à instalação de um mecanismo interno de hipervigilância, pensamento condicional (“e se eu voltar a ter um ataque”), desconforto e desconfiança do próprio corpo, medo da perda de controlo, tensão muscular, respiração curta e torácica de natureza ansiosa.
Como parar de ter ataques de pânico?
Antes de mais é importante compreender o que desencadeou o ataque de pânico. As condições de vida, os gatilhos que desencadearam uma situação percepcionada como estado fora de controlo e ameaçadora.
Algumas sugestões para controlar este “terramoto” sensitivo:
- É importante partilhar e dar a conhecer o loop ansioso dentro do qual se encontra; compreender que é a própria pessoa a desencadear os seus ataques de ansiedade e de pânico.
- Fornecer ferramentas de controlo de respiração e de relaxamento muscular para evitar a escalada da respiração torácica de modo a que não se dê um estado de hiperventilação característico dos ataques de pânico.
- Trabalhar a introdução de estratégias distractoras internas e externas. - Retomar gradualmente os comportamentos de evitamento com o auxílio da instalação de uma respiração mais lenta e profunda para evitar picos de ansiedade.
- Em caso de medicação psiquiátrica, trabalhar com o psiquiatra o desmame e ajudar caso existam recaídas.
Felizmente, a intervenção sobre os ataques de pânico tem um enorme sucesso clínico.
Após a redução significativa dos ataques de pânico segue-se o trabalho sobre a construção da identidade do paciente em torno da noção de perigo. No fundo, como construiu o mundo em seu redor.
Quais as figuras relevantes que o ajudaram a conceber o mundo como um lugar perigoso e contribuíram para viver situações inesperadas com um elevado grau de maior ansiedade.
Um trabalho, pois, de natureza mais psicoterapêutica que poderá ser muito útil para que não voltem a acontecer situações externas vividas, internamente, como ameaçadoras podendo desencadear ataques de pânico.
Se é vítima de ataques de pânico ou conhece alguém que esteja a passar por tal, acredite que a Psicoterapia poderá ser uma ajuda preciosa.
Deixo-lhe o link directo para marcação da sua consulta.
Um forte abraço
António Norton
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