Ser Psicoterapeuta não é dar conselhos.
Não é dizer tem de ir pela esquerda ou pela direita, pelo caminho A ou pelo caminho B.
Tem de fazer isto ou aquilo.
Quem faz isso são os nossos amigos, aqueles que desejam ajudar-nos na melhor das intenções.
Um Psicoterapeuta trabalha de outra forma…
Não procura ser directivo, ou impositivo.
Se um paciente precisa de saber o que fazer e se o Psicoterapeuta lhe dá uma resposta, está a criar uma relação de dependência, está a dizer indirecta ou implicitamente : “Tu precisas de mim para te dar as respostas aos conflitos da tua vida”. Se o faz está a alimentar o seu narcisismo, a sensação de querer ser importante, de transmitir a ideia de que os outros precisam dele.
A Psicoterapia promove a autonomia, o reencontro, a liberdade. Não promove a dependência.
Qualquer Psicoterapeuta deve promover a autonomia de pensamento e de sentimento no seu paciente, justamente para que ele se reencontre e siga o seu caminho.
Se o Psicoterapeuta dá “conselhos”, indica a direcção que ele mesmo tomaria: “No seu lugar eu faria isto...”. Está, pois, a dar uma resposta como se fosse o paciente, mas não é nem nunca será o paciente.
Por outro lado, se lhe dá uma resposta, está a transmitir a ideia: “eu é que sei e tu não sabes” e esta situação, provavelmente, vai alimentar a ideia de dependência que foi aprendida e interiorizada pelo paciente ao longo da sua vida. Talvez os seus pais também lhe tenham transmitido a mensagem de que eles é que sabem… e assim o paciente tenderá a repetir este padrão, agora na Psicoterapia. Dar as respostas, enquanto Psicoterapeuta, é alimentar um padrão antigo de dependência.
E Psicoterapia é justamente o contrário! A Psicoterapia não mantém os padrões disfuncionais.
Então o que faz o Psicoterapeuta quando um paciente lhe pergunta aflito “O que faço? O que faria na minha situação?”
Um Psicoterapeuta respira, encontra ar dentro de si, toma o seu tempo e ajuda o paciente a compreender os conflitos intrapessoais que poderão estar relacionados com o dilema que o cliente apresenta.
Vou dar um pequeno exemplo muito simples:
Vamos supor que surge um paciente em sessão que diz sentir-se muito ansioso porque está a ser alvo de muita pressão no seu trabalho e também na sua vida familiar e amorosa.
A pressão intensa poderá remeter para temas de invasão nos quais o paciente se sente invadido e não consegue impor limites.
Qual o papel do Psicoterapeuta?
O papel do Psicoterapeuta é o de procurar um fio condutor para as várias situações disfuncionais relatadas. Procurar um eixo comum que seja congruente e, se assim o encontrar, poderá devolver ao paciente.
Uma hipótese, será reconhecer que as várias situações relatadas, provavelmente, estão relacionadas com a dificuldade que o paciente demonstra em impor limites.
Se o paciente concordar com esta visão, se entender que faz sentido e se sente compreendido, poderá dizer ao Psicoterapeuta que concorda com a sua percepção.
Existindo este espaço de entendimento e comunicação, qual o passo seguinte?
Um amigo diria algo como: “Tens de começar a dizer - Não!,- como podes permitir isso?”, e.t.c
Esse não é o papel do Psicoterapeuta!
O Psicoterapeuta vai procurar compreender as emoções que estão relacionadas com a verbalização da palavra Não e com a imposição de limites; vai dar um espaço de segurança para o paciente no “aqui e agora” poder experimentar dizer - Não. Vai ajudar o paciente a usar o seu corpo para impor limites ao Psicoterapeuta; vai ajudá-lo a entrar em contacto com a vivência emocional da experiência da imposição de limites. Vai também ajudar o paciente a compreender a sua história emocional perante a imposição dos tais limites e que emoções reprimiu para se negar a impor esses limites? O que ganhou com essa escolha, etc.
Espero que este breve exemplo tenha elucidado um pouco a especificidade do trabalho clínico de um Psicoterapeuta.
É importante compreender que a Psicoterapia não é um espaço para pedir conselhos ou procurar soluções impostas por um perito na matéria. É sim, um espaço de encontro em que o Psicoterapeuta ajuda o paciente a encontrar respostas e ferramentas dentro de si mesmo, promovendo a sua maior consciencialização e autonomia.
Se atravessa um período da sua vida em que precisa de tomar decisões e sente-se pressionado por amigos e família, a Psicoterapia poderá ser um excelente espaço de reflexão, sem pressão, sem conselhos, sem condicionamentos e com total liberdade e respeito para que possa "ouvir" as várias partes que existem em si e poder tomar a sua decisão.
Se sente necessidade de procurar ajuda terapêutica nesse sentido aqui lhe deixo o link para marcar a sua consulta.
Um abraço
António Norton
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