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Foto do escritorAntónio Norton

Há escolher e escolher!


Viver é escolher. Todos temos de escolher. Em cada hora, em cada minuto, em cada segundo. Não podemos fugir das escolhas.

Mas o que significa verdadeiramente escolher?

Na minha prática clínica recebo muitas pessoas que estão divididas nas escolhas que fizeram e nas escolhas que querem fazer. Surgem no consultório dizendo que fizeram uma escolha, mas não a aceitam plenamente. Há escolher e escolher…

Na minha opinião, existem três dimensões que deverão ser consideradas na temática das escolhas:

A dimensão cognitiva – Os pensamentos, as ideias, as crenças, o que pensa sobre a escolha que fez ou pensa fazer.

A dimensão emocional – As suas emoções, o que sente perante a escolha que fez ou quer fazer.

A dimensão comportamental – O comportamento que tomou ou quer tomar.

Gostaria de fazer aqui uma distinção entre escolha integral e escolha parcial.

A escolha parcial implica a presença de uma ou duas das dimensões consideradas.

A escolha integral implica as três dimensões.

Vou dar aqui alguns exemplos de escolhas integrais:

O João pediu a Maria em casamento (dimensão comportamental); pensa que fez a escolha certa (dimensão cognitiva) e sente-se muito feliz por ter feito esta escolha (dimensão emocional).

A Maria disse ao seu antigo namorado que estava noiva do João (dimensão comportamental); Maria pensa que fez o correcto para o Luís deixar de a procurar (dimensão cognitiva) e sente-se bem consigo própria por ter escolhido ser verdadeira com o ex-namorado (dimensão emocional)

A Maria foi ter com o seu pai e escolheu perdoar o comportamento ofensivo que este apresentou, quando soube do noivado da sua filha (dimensão comportamental); Maria abriu o seu coração e tentou compreender o seu pai. Sente-se em paz consigo própria (dimensão emocional) e pensa que o seu pai não teve más intenções (dimensão cognitiva).

Todas estas escolhas são integrais.

Quando alguém faz uma escolha integral, não existe conflito, dúvida ou questionamento.

Mas muitas vezes, as escolhas são parciais…

Imaginemos o David que se casou com a Joana, sabendo que não a amava verdadeiramente. O comportamento foi casar-se, a acção foi justamente essa. (dimensão comportamental). O pensamento dizia-lhe que não a amava (dimensão cognitiva) e a emoção traduziu-se por uma distância progressiva, acompanhada de desligamento, desinteresse e até algum evitamento (dimensão emocional). David fez uma escolha parcial que conduziu a uma divisão dentro dele mesmo, a um conflito, a um duelo entre duas partes. David sente-se culpado por se ter casado e ter dado esperanças de criar uma família com Joana, mas sabe e sente que não a ama. David fez uma escolha parcial em que apenas a dimensão comportamental esteve presente.

Quando as escolhas são parciais criam-se conflitos, sensações de desconforto, de ambivalência e de dúvida.

Naturalmente, as escolhas integrais conduzem a um maior sentido de realização interior.

O que fazer para as ter? Como chegar às escolhas integrais?

Não há receitas fáceis, nem soluções milagrosas, mas acredito que o segredo está na consciencialização de todas as dimensões e na escuta interior dos pensamentos e emoções.

Perante qualquer escolha deveremos ter a capacidade de ouvir os nossos pensamentos e as nossas emoções. Ouvir sempre estes dois canais. Se ouvirmos apenas os nossos pensamentos, poderemos fazer escolhas apenas baseadas na razão e depois entramos em conflito com as nossas emoções. Por exemplo: escolher uma profissão, apenas porque tem saída no mercado profissional, mas não ter qualquer empatia e ligação emocional com essa profissão.

Se ouvirmos apenas as nossas emoções, corremos o risco de fazer escolhas impulsivas, das quais nos poderemos arrepender, como por exemplo, experimentar mergulhar de uma altura de 10 metros, apenas porque sentimos o entusiasmo necessário para o fazer, sabendo que não temos qualquer preparação física ou mental para tal acto.

Se ouvirmos as nossas emoções e os nossos pensamentos e encontrarmos entre ambos um diálogo harmonioso e concordante então poderemos fazer escolhas integrais e aumentar a nossa realização pessoal.

Há escolhas e escolhas. E existem certas escolhas que marcam de algum modo, a nossa vida. Eu acredito que deveremos procurar as escolhas integrais e encontrar a harmonia dentro de nós.

Muitas pessoas têm muita dificuldade em encontrar essa harmonia.

A Psicoterapia é justamente um espaço destinado a lidar com a ambivalência, a dúvida e o conflito. Se não encontra harmonia dentro de si, a Psicoterapia poderá ser um caminho para encontrar a solução que procura.

Deixo-lhe o link directo para a marcação da sua consulta.

Um forte abraço

António Norton



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2 Comments


António Norton
António Norton
Jun 07, 2020

Muito obrigado pela sua reflexão e pela sua partilha tão rica de conteúdo. E estou inteiramente de acordo consigo Ana. De facto, muitas das escolhas que fazemos não são feitas de uma forma integral, mas sim parcial e claro que surgem consequências de tal. E claro que certas escolhas conduzem a estados de ansiedade, de depressão, entre outros sintomas, que nos alertam para a necessidade de fazer mudanças, ou seja, novas escolhas na nossa vida, de modo a sair de estados de sofrimento e angústia.

E sim, certas escolhas são de facto difíceis... E por vezes também temos escolhas impostas, mas convém também parar e perceber se existe alguma margem de liberdade perante a autoridade do peso familiar ou da…

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anatraquino
Jun 01, 2020

Um artigo interessantíssimo, completamente atual no mundo em que vivemos absorvidos de obrigações levadas a Cabo por escolhas não integrais. O nosso crescimento leva-nos a escolhas, boas ou menos boas, de acordo com a idade em que estamos a vivê-las. Para uns, o abismo é uma atração, é a adrenalina, para outros a cautela é a tranquilidade, o sossego, a calma. Mas aqui temos as escolhas de acordo, também, com o carácter e a personalidade de cada um na idade em que se encontra, com os impulsos e não reflexões por falta da maturidade inerente. Depois vêm as consequências, que se pagam com o tempo e nos levam a feridas abertas, a medos, a ansiedades, a dores e tristezas... E,…

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