Hoje, pensei escrever sobre um tema violento, intenso, dramático e perturbante.
Refiro-me ao suicídio.
Trago este tema em virtude de, recentemente, termos todos sido informados de um suicídio de mais uma pessoa que, aparentemente, tinha tudo para ser feliz…
A pergunta central e inevitável que surge em todos nós quando alguém se suicida é: porquè?
O “porquê” ainda ganha mais força quando, aparentemente, nada o fazia prever…
Como Psicoterapeuta, durante o meu percurso clínico, tenho recebido várias pessoas que têm a intenção de se suicidar. Algumas surgem na minha consulta já com tentativas de suicídio e com episódios de internamento.
Talvez seja demasiada extrapolação da minha parte, mas permitam-me a ousadia de referir um elemento comum ao tema do Suicídio.
Uma pessoa que pretende suicidar-se, geralmente, fá-lo porque é invadida por um sentimento intenso e quase constante de auto-vergonha, o qual gera um impulso de auto-agressão que poderá culminar no suicídio.
A vergonha é sentida, muitas vezes, em silêncio. O para-suicida poderá partilhar que se sente impotente, não aguenta mais o sofrimento que vive, mas raramente falará ou partilhará a vergonha que sente e que teme, no futuro, ser insuportável.
Geralmente esta vergonha surge associada a um pensamento absoluto e dicotômico que divide a história de vida do para-suicida em duas partes: Quem fui e quem vou ser. Entre o Passado e o Futuro.
Um pensamento absoluto, regra geral, permanece teimosamente:
“Eu não quero ser esta pessoa no futuro. Não quero continuar assim!”
“Sinto vergonha de mim mesmo”
A vergonha é aflitiva e mina a auto-estima do para-suicida, inundando-o de pensamento absolutos, categóricos, ligados à destruição da própria pessoa como fim do sofrimento.
Geralmente o para-suicida não vê qualquer fuga, qualquer possibilidade de reparar uma ou várias escolhas que foram feitas.
Existe uma ideia determinista: “Não há nada que possa ser feito”
“É o fim da linha”
Este é, geralmente, o quadro emocional e cognitivo que se encontra presente no tema do Suicídio.
O que é fundamental perceber é que quando falamos de Suicídio falamos de auto-estima.
Quando a nossa auto-estima é construída em função da nossa imagem e do que conseguimos alcançar na nossa vida, vivemos numa situação permanente condicional unidireccional em que eu SOU o que TENHO.
Se eu tenho beleza, se eu alcanço os meus objetivos, se eu sou reconhecido, se eu sou elogiado, então a minha auto-estima está equilibrada.
Mas, se por qualquer motivo eu perco essa possibilidade de TER, o meu SER perde todo o sentido de existir e passo a sentir vergonha de mim mesmo o que me poderá conduzir ao suicídio.
Como se o que eu perdesse definisse a minha identidade.
Uma pessoa que tem este tipo de auto-estima condicional é, na verdade, prisioneira do seu EGO e da sua permanente necessidade de TER para poder SER. E o risco é justamente viver numa permanente necessidade de provar a si mesmo que pode SER porque TEM.
Na verdade, a sua auto-estima é vulnerável e geralmente foi construída precocemente e alimentada por uma ideia de que para SER tenho de TER - Seja beleza, desempenho académico de excelência, um emprego ou o que for.
Quando uma pessoa cresce num ambiente de Amor em que é apenas e só é amada porque é; em que percebe que o amor que recebe não depende das notas que tem ou da sua beleza, ou dos erros que comete, então a equação da sua auto-estima será no sentido de SER Igual a SER - Então eu SOU, independemente do que tenho e posso sempre redescobrir-me, reinventar-me, reconstruir-me e recomeçar. Não sou prisioneiro do meu EGO, da minha imagem, do que obtive na vida ou do que pretendo obter - O meu amor por mim mesmo não depende de tal.
Se a minha identidade não é definida pelos meus actos, conquistas, palavras então eu poderei sentir vergonha do que fiz - mas não entro numa vergonha identitária porque eu não sou o que faço.
O tema do Suicídio é o tema da auto-estima.
É um tema extraordinariamente delicado e que nos apanha de surpresa, porque geralmente o suicida vive dentro da sua espiral condicional de auto-estima e fica silenciosamente prisioneiro dela.
Como podemos prevenir o Suicídio?
Começando por aceitar e amar as pessoas por elas próprias e não pelo que fazem. Tudo começa aí…
E como podemos detectar uma pessoa com pensamentos suicidas?
Perceber se a sua auto-estima se alterou fortemente em virtude de uma escolha, de uma situação futura. Estar atento se houve uma súbita e marcada mudança de humor caracterizada por um silêncio grande e um crescente isolamento.
O que fazer se sabemos que alguém se pretende suicidar?
Falar abertamente com essa pessoa e procurar que ela assuma um compromisso de marcar imediatamente uma consulta de Psicoterapia, compreender a rede de suporte que essa pessoa tem e não a deixar sozinha na fase aguda da ideação suicida.
Se se identifica com o que partilhei ou conhece alguém que esteja numa fase de pensamento suicida recomendo vivamente que não hesite um segundo e procure ajuda Psicoterapêutica.
Deixo-lhe o link directo para marcação de consulta.
Um forte abraço
António Norton
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