
Gostaria de partilhar algumas estratégias que poderão ser úteis para promover a reparação de relações prolongadas de conflito.
Quando me refiro a conflito, é importante distinguir dois tipos:
O explícito – no qual se apresentam gritos, insultos, palavras usadas propositadamente para agredir e magoar o outro e agressividade verbal.
O implícito - marcado por distanciamento emocional, desligamento, ausência de comunicação. Como se duas pessoas estivessem a passar por uma fase de “guerra-fria”.
Como se poderá reparar uma situação de conflito?
O período de quarentena no qual temos de estar confinados de uma forma contínua a um mesmo espaço, às mesmas divisões, à mesma casa, é muito desafiante.
Se existem dinâmicas de relacionamento conflituoso, estas podem facilmente agudizar-se. Os conflitos explícitos podem tornar-se mais acesos, mais agressivos. Por outro lado, os conflitos implícitos podem transformar-se em explícitos ou aumentar o distanciamento instalado.
Mas este período de quarentena também pode ser uma oportunidade de reconstruir laços.
E por que digo isto?
Quando uma dinâmica de conflito está instalada as pessoas, muitas vezes, encontram estratégias adaptativas para fugir aos focos de tensão:
- Não tocar nos temas inacabados, não tocar nas feridas, não invocar as mágoas.
- Distanciamento emocional
- Chegar tarde a casa a fazer horas extra no trabalho
- Ter hobbies
- Investir em relacionamento paralelos
- Investir na rede de amigos
O período de quarentena impede tudo isto. As pessoas estão em casa, sempre juntas. Contactam e observam-se contínua e diariamente.
Não há grande possibilidade de fuga e existe também outro fator importante e valioso: o tempo! Existe o tempo. Muito tempo!
Mas…
Apesar de tudo isto, muitos laços não são reparados
E por que razão?
Se a conversa correr mal, o clima será péssimo e não haverá forma de fuga…
Mais vale ficar tudo tal e qual como está e esperar que a quarentena termine.
É uma opção que, atenção, nada mudará!
A questão aqui é como começar uma conversa com algum risco, conversa esta que pretende reparar um conflito instalado.
Antes de começar, escolha um momento sereno, sem ruído, sem confusões nem distrações - televisões, rádios, telemóveis, etc.
Olhe para os olhos da pessoa com quem quer falar, respire fundo e lentamente. A respiração lenta e profunda vai ajudar no desbloqueio da tensão acumulada e proporcionar mais relaxamento, mais espaço e mais disponibilidade emocional para começar esta conversa.
Proponho que a conversa passe por 3 eixos:
- Passado
- Presente
- Futuro
Comece sempre pelo passado.
Passado - Partilhe a saudade que tem dos momentos de cumplicidade, de alegria e da proximidade que tinha.
Sublinhe a saudade, o quanto sente a falta desse encontro, dessa ligação. Partilhe as emoções sentidas nesses momentos.
No final, pergunte: quais os momentos de que também tem saudades?
Por que razão deve começar por invocar o passado se o problema está no presente?
Porque ao falar sobre o passado, a saudade, a sensação de falta vai estar a trazer memórias boas que vão ter reflexo no seu corpo, na sua voz, no olhar, na respiração, no peito, nos vários músculos do seu corpo. Ficará menos tenso, mais terno e mais próximo.
Vai abrir mais o seu coração e vai estar em contacto consigo mesmo e com a outra pessoa.
Pode acontecer que se emocione. Poderá até surgir alguma tristeza a qual irá aliviar a tensão sentida inicialmente.
E vai abrir espaço para a empatia.
É através da empatia que vai abrir a porta da intimidade e construir pontes para ir ao encontro da outra pessoa, seja essa pessoa um filho, um cônjuge, um parceiro amoroso, o pai, a mãe.
O outro vai ficar menos tenso, menos hostil, menos defensivo; vai baixar as suas armas e ficar mais empático. Assim a verdadeira comunicação pode acontecer.
Presente - Abrindo o seu coração e o da outra pessoa, haverá outra disponibilidade para falar do presente. De como se sente com o distanciamento (conflito implícito) ou a agressividade contínua e estado de tensão permanente (conflito explícito).
Fale sobre como se sente e não faça críticas. Expresse o seu sentimento.
No final pergunte a opinião à outra pessoa, o que a magoa ou qual é a zanga que sente no tempo presente da relação.
Futuro - Fale agora sobre como gostaria que a relação fosse, futuramente. O que deveria ser mudado. Procure ser concreto. Fale de si próprio, das atitudes a melhorar e a mudar. Exprima o desejo de que a outra pessoa possa reflectir e melhorar também.
No final, pergunte-lhe a opinião.
Estas estratégias podem ser aplicadas entre pais e filhos, irmãos, amigos enfim, quaisquer duas pessoas que vivem uma dinâmica instalada de conflito implícito ou explícito.
Se se reconhece neste artigo e sente que a sua relação está em permanente conflito, agudizado por toda esta situação de quarentena, então acredite que a Psicoterapia poderá ser uma ajuda preciosa.
Deixo-lhe o link directo para marcar a sua consulta que durante este período será por vídeo chamada.
Que este período seja de crescimento e renovação de laços há muito esquecidos e abandonados.
Um abraço
António Norton

Comments